domingo, dezembro 26, 2004


Com o Inverno por aqui a dar o ar da sua graça... ai que saudades do Verão!

sábado, dezembro 18, 2004

Lembrei-me do dia do teu baptizado num destes dias em que navegava pela net. Sempre a velha questão dos pais... se devem ou não baptizar os filhos quando estes têm ainda uma incapacidade para fazê-lo conscientemente.
Lembrei-me que foi um dia que desejei muito, e que ficou marcado para Julho, quando havia mais facilidade de reunir toda a família e amigos. O ritual de sempre, a preparação normal, as dificuldades que se apresentam aos pais não casados, a dificuldade que foi querer baptizar-te onde os avós se casaram e baptizaram a mamã e as tias. Aquele lugar, cheio de beleza e significado, no alto de uma colina, mais perto de Deus...
Foi tudo pensado ao detalhe, mas a cerimónia estava longe de ser por mim imaginada. Nunca tinha assistido a uma assim. Começámos na rua, como que a assinalar a entrada para a tua vida cristã. E na igreja fomos entrando, devagar... Foi-nos explicado que o baptizado é uma opção dos pais, e não deve ser entendido como que uma obrigação dos filhos para seguir este caminho. Mais tarde, ser-te-á dada a oportunidade de confirmares ou não a nossa escolha. Apenas te encaminhámos...
Por isso sei que fiz a opção correcta para ti. Não sendo eu uma católica praticante, sei que lá em cima tens um anjo que te guarda quando não te vejo, um Deus que te protege das doenças, dos sonhos maus, dos dias tristes, das dificuldades. O mesmo Deus que te me ofereceu, que te ajudou a gerar dentro de mim, e te trouxe ao mundo para alegrar os meus dias. O Deus que faz de ti, todos os dias, a mulher bonita em que te hás-de transformar...

segunda-feira, dezembro 13, 2004

Quiseste fazer a árvore em casa do papá, e a da casa da avó! Adoras as decorações, as bolas, as luzes, mas principalmente os chocolates... Fizeste o presépio, alinhaste as fuguras, fizeste nascer de novo o menino Jesus, por entre as folhas de papel que o guardaram durante todo o ano...

Este ano o Natal tem outro signficado para ti. Participas mais activamente nas conversas, procuras na rua as decorações das casas, encantas-te com os Pais Natal que vais encontrando.

Hoje surpreendeste-me, mais uma vez. Disseste, naquela confusão temporal que fazes, que amanhã (que quer dizer neste caso, no ano passado), que o mano e o David se vestiram de Pai Natal e entraram em casa da avó... Memórias do Natal anterior, enfim. Lá te expliquei que o verdadeiro, coitadinho, tinha tantos sítios onde ir que não teve tempo de ir à nossa casa. E que por isso tinha mandado emissários. Ficas atenta, a ouvir-me e a falar na tua língua, que falas quando não queres ser entendida...

És uma criança tão feliz, tão bonita, tão alegre... certo é que nunca vi um brilho tão intenso nos teus olhos como o de agora...

quarta-feira, dezembro 08, 2004

A ausência da mamã na blogosfera justifica-se com uma mudança inesperada! Daquelas que nos são transmitidas com uma frieza que nos gela o corpo, e que me fez tremer, disfarçadamente, para que ninguém visse ou reconhecesse. A mamã, como milhares de outras mamãs, ficou sem trabalho. Já não se levanta ainda de noite, já não percorre centenas de km por semana, já não vai reeber os tostões que tu tanto gostas, ao fim do mês, para te comprar os presentes. A vida é assim...

Certo é que doeu à mamã deixar de um dia para o outro uma quase família. Pessoas com que a mamã se habituou a partilhar os dias, e que ficam aqui sempre guardadas. Só as boas... Doeu à mamã sair, sem saber porquê, sem que encontrasse um motivo. Sair com um sentimento de tristeza, de revolta, de incapacidade...

Num destes dias a mamã volta aquele lugar, para recordar as pessoas, para olhá-las de novo com orgulho, e para lhes dizer que, apesar de tudo, a vida continuou... Um dia volta e diz a (quase) todos que saiu, mas saiu mais rica, mais humana! Um dia tudo se resolve...

quinta-feira, dezembro 02, 2004


E, já agora, (sujas) recordações de Dezembro de 2002!

Porque entrámos em Dezembro... recordações de Dezembro de 2001!
Ando a cultivar-te memórias... dos tempos agora distantes, dos dias mais antigos, das fotografias que vês e revês na esperança de encontrar algo ou alguma referência que te transporte para outra idade. Queres saber o porquê de já não seres mais um bebé, de seres uma menina grande, talvez com receio que o primo bebé que lá vem invada o teu tempo e o teu espaço. Mas dizes, orgulhosa, com voz altiva de menina mais velha, que o primo vai dormir no teu berço, e que vais ter uma cama "gandi, gandi, gandi" só para ti, igual à da avó. Dizes que vais ensiná-lo a andar e a falar e a pintar e a escrever, como se o fizesses já, na tua metódica perfeição...
Mas o mais engraçado é que poucos milímetros de vida são já uma certeza na tua. Quando vês a "Tia Polha" saltas-lhe para o colo enquanto gritas alegremente. Queres dar-lhe um beijo na barriga. Ao contrário do que pensava, tens perfeitamente a noção de que ainda falta muito tempo para termos o bebé connosco, e demonstras uma calma para mim desconhecida.
Lá andas tu outra vez a ensinar-me a viver, enquanto corres à volta da mesa, e dizes e repetes vezes sem parar, com os braços esticados para o ar, que a barriga da tia vai ficar "muito enorme"...

segunda-feira, novembro 29, 2004

A caminho de casa do papá ía preocupada. Com aquele aperto no coração que dói e que conheço desde que nasceste. Um medo súbito e intenso de não conseguir controlar a vida e as coisas.
Correste para o meu colo com aquele chorinho de mimo. Baixinho, sem lágrimas, como que se um queixume. Sei que, por dentro, me repreendes de te deixar. Não que não estejas bem... Mas desta vez foi diferente. Uma ferida carregada na tua cara pequena, mesmo por baixo do olho. "Uma sorte", diz o papá. Mais uma vez a minha incapacidade de te proteger, penso eu. A tua confiança de criança não te permitiu ver o perigo numa simples caneca cheia de lápis, por cima da qual tropeçaste e caíste. A velha máxima, de que me lembro tantas vezes. Não podia evitar que caísses, mas também não estive lá para te ajudar a levantar...
A marca está lá. Aquela que tentei aliviar enquanto dormias, com sorriso de anjo. E eu a agradecer a Deus por, apesar de tudo, ser apenas e só uma marca que o tempo há-de apagar...

sábado, novembro 27, 2004


25 Dezembro de 2002. Só para re-lembrar que é quase Natal...
A tua reunião foi pouco importante. Demasiado pouco importante para as preocupações que tive, em não me atrasar. Apenas para marcar a festinha de Natal, que será felizmente mais perto do que a do ano passado, e infelizmente a um Domingo. O que implica que a mamã tenha algumas dificuldades em participar contigo.
Mas para que a viagem não fosse em vão, a mamã resolveu falar com a tua professora. As preocupações do costume. Parece certo é que a tua vida na escolinha é bastante diferente da de casa. Na escola és activa, perspicaz, meticulosa, meiga e sociável... nada de novo. Facto é que também és cautelosa e obediente. Facetas tuas que por vezes desconheço, ou não revelas. E culpo-me porque por vezes (ou quase sempre), sou eu que te facilito a vida para te compensar de coisas que não controlo. Para te compensar do tempo que não tenho, do cansaço que não escolho, do afecto de uma família dita normal, da que estás involuntariamente privada. Para o bem e para o mal, estamos todos...

sexta-feira, novembro 26, 2004


Nostalgia II!

Hoje estou nostálgica!!!
Enquanto cantas, vais saltitando na tua cadeira ao meu lado, com a felicidade típica das Sextas-Feiras, dia de Ginástica. Um autocarro cheio de meninos que te guia a 50 minutos de alegria. Digo-te que vou trabalhar, que saio tarde, que vou directamente para uma reunião na tua escolinha. Dizes-me que tenho que trabalhar para te comprar "papa" e "brinquedos". "Muitos, mamã!". Como que se os que tivesses não fossem já demais...
Entretanto explico-te que hoje não te vou buscar. Vai o papá! "Que sorteeeee!" Gritas. "Vou dormir na cama do chão ao lado do mano". Sorte a tua. Já não estava habituada a ver-te ir, a sorrir, enquanto fico...

quinta-feira, novembro 25, 2004

A tua festa foi como imaginei, apesar deste ano não me sentir muito motivada para a fazer. Não sei se pela excitação das novidades do bebé primo, que lá vem, ou se por estar a trabalhar nesses dias, que me causou o dobro do cansaço. De qualquer forma, ao fim de analisar todos as hipóteses, concluí apenas que este aniversário não foi só mais um. São já três os anos de ti, em mim, ou em nós. Da tua vida, da tua alegria, da nossa felicidade. Três anos da maior aprendizagem que tive, de descoberta, da construção do amor mais eterno que conheço. O que tenho por ti.
Estavas radiante com a perspectiva de chegar Domingo. Como te prometi, quando acordasses, lá estaria uma prendinha encostada à janela, deixada por uma fada. A fada madrinha, na tua imaginação. A "fada mamã". Quando te telefonei, às 10h40, cantavas radiante as "musícas" do novo CD. E querias à força abrir uns presentes que a mamã tentara esconder de ti, debaixo da cama da Tia Tita.
Chegar a casa foi uma alegria. Vestir-te uma roupa nova, e terminar à pressa os doces e salgados dos convidados. A madrugada anterior não foi suficiente para ultimar todos os pormenores.
Depois sempre a mesma alegria. Os amigos e familiares a chegar. Montanhas de presentes para desembrulhar. Velas no bolo de aniversário. Desta vez três. Outro dos dias mais felizes da minha vida, por poder partilhá-lo contigo. O meu corpo a ressentir-se de horas sucessivas de stress, compras, culinária, arrumações e afins. Mas foi tão bom ver-te adormecer ao lado do Xico com um sorriso estampado na carinha pequena.
Segunda-Feira querias fazer anos outra vez. Tiveste direito a bolo e surpresas na escolinha. Quando te fui buscar, à tarde, perguntaste-me se ías ter mais prendas e mais bolos e mais gente. Respondo-te que não. Só para o ano. "Como a avó, que também faz anos para o ano?" Perguntas. Sim. "Mamã, o que é um ano?". E eu, mais uma vez, sem te conseguir responder...

domingo, novembro 21, 2004

PARABÉNS, FILHOTA!!
Depois de 36 semanas na barriga da mamã, decidiste iniciar a nossa viagem juntas. Já lá vão três anos...
Lembro-me que, por cerca das 11 horas da noite anterior as enfermeiras sossegaram o papá e as tias, porque não irias nascer tão depressa. Mas a mamã não conseguia adormecer, as dores aumentaram, e lá foi a mamã para a sala de partos. Eram 3 da manhã. A mamã telefonou insistentemente para o papá, que dormia profundamente. Estava sozinha, e assustada, mas a tia Patrícia apareceu. A tia cuja gravidez acompanhamos agora, tão felizes...
A noite não acabava, a mamã chorava com dores, a Tia Patrícia desesperava sentada numa cadeira onde tentava dormitar. Amanheceu, passaram mais algumas horas e começou a tua vida cá fora. 10h40. 47 cm. 2,810 kg. A minha menina. Tão pequenina e tão linda. O papá, no corredor, estático, a sorrir a ver-nos passar. Segurou-te com minutos de vida, enquanto os raios de sol entravam pela janela, numa das imagens mais felizes que guardei. Finalmente os três, juntos. A nossa Maria Helena.
Hoje fazes parte de nós. Inundaste a nossa família com uma alegria terna. Tens os olhos do papá, o sorriso do avô e uma energia que não acaba jamais. Cativas toda a gente com a tua simpatia, achas-te enorme neste mundo de gente grande, és vaidosa, caprichosa, inteligente, perspicaz.
Hoje é o teu dia. O dia da minha alegria...


sábado, novembro 20, 2004

Amanhã completas três anos… e os momentos de ti vão-se acumulando na minha memória, como que atropelando-se, com um medo meu de perder um instante teu.

Estou só eu aqui, a pensar. Desde que nasceste que mudaste a minha vida e os meus sonhos para sempre. Porque nasceste do meu corpo, porque te alimentaste de mim, porque vivi para ti durante meses. Desde que choraste pela primeira vez, naquela manhã fria de Novembro, soube e sei que és o meu amor mais constante, mais estável, mais garantido, mais feliz, mais incontestável, mais incondicional. Eras linda quando nasceste. Tão pequenina. Tão rosada. Sempre te falei, sempre senti que te conhecia, mas ver-te foi o expoente máximo de uma felicidade que nunca ousei imaginar.

Agora sou um ser mais completo. Tudo o que vejo, tudo o que sinto, tudo o que penso tem um toque teu. Tu, que na tua pequenez, me vais mostrando o mundo, e me vais dando certezas de que a minha existência, por mais difícil que seja, vale sempre a pena!

E ser tua mãe é mesmo assim. Ver-te crescer, rir com as tuas gracinhas, ajudar-te a levantar, quando cais. Sentir o teu cheiro, enquanto dormes numa paz imensa, com respirar de anjo. Levar-te para a escola, aos pulinhos, enquanto canto a tua música preferida. Observar-te, apenas. Ensinar-te as cores, as letras e os números. Mas sobretudo sentir orgulho. Tanto… E fazer tudo e ainda mais para te proteger, dar-te colinho, dar-te miminhos… fazer de ti a criança feliz que eu fui.

Fazes três anos amanhã, meu bebé pequeno. E a alegria de te ter perto de mim aumenta a cada minuto que passa…

sexta-feira, novembro 19, 2004


O meu Fim de Semana na Serra - Parte II !

O meu Fim de Semana na Serra - Parte I !

segunda-feira, novembro 15, 2004

Afinal às vezes temos medo, amor, por nada, ou por coisa nenhuma!
Sei que ainda é cedo, demasiado cedo, mas o milagre da vida desenvolve-se na barriga da tia magriça! Se dúvidas havia, eis que a tecnologia nos vem provar que a tua sementinha - prima está lá, bem viva, e já com 3,8 mm. Quase 4 mm de gente, que vão crescendo inversamente proporcionais à nossa paciência. Mas da mesma maneira que a nossa curiosidade...
É impressionante como uma imagem quase imperceptível muda as nossas vidas para sempre. E é por isso que a mamã acredita tanto numa Senhora, a quem pediu tanto que tudo corresse bem. Que assim continue!
Mais do que alegria, felicidade. Mais do que tudo...
P.S. - E a dra. ainda deixou no ar a possibilidade de em vez de uma, serem duas sementinhas...


domingo, novembro 14, 2004

Estava aqui a pensar, pequenina, que na tua cabeça as coisas têm uma lógica estranha mas muito real. Porque, sinceramente, faz todo o sentido chamares "arrumário" a um móvel onde se arrumam coisas!

Já acrescentei mais uma palavra ao lote das que tu inventas, e que são tão utéis, que às vezes dou por mim a dizê-las noutras situações, com outras pessoas, que provavelmente pensam coisas estranhas da mamã.

Já pensei também nisso, e realmente todos os dias compreendo mais o que é ser mãe. Ou melhor, tua mãe! É vestir um pouco a tua pele, sentir como te sentes, viver o que vives. Para te compreender. Há dias em que não tenho paciência, outros em que pareço, como tu, uma menina. Como quando te levo ao Infantário e fazemos corridas para ver quem chega primeiro à campaínha, em grande algazarra. Não sei ser de outra maneira, ou educar-te de outra forma. Talvez por vezes seja demasiado permissiva. Certo é que sigo o meu instinto, e deixo-me levar. Porque das ideias pré-definidas que tinha, já me esqueci...

P.S. - "Falei" agora com a sementinha, que até estava bem disposta!


sábado, novembro 13, 2004

Não Aguento!!! Logo no dia em que a Beatriz resolveu nascer, eis que tenho uma notícia pela qual esperei tanto tempo. VOU SER TIA ! Pois é Princesa, vais ter o primo bebé que pediste, com meias, sapatinhos, e tudo o que tens direito…

Resta-me pedir a Deus que não confirmem as suspeitas, e que o meu bebé, agora apenas com 2 mm, cresça saudável e feliz na barriga magricela da mamã!

Decididamente, é muita felicidade para um dia só!

P.S. – Eu sei que, dadas as circunstâncias, ainda é segredo. Mas eu prometo que ninguém vai ler isto!

sexta-feira, novembro 12, 2004

Ontem quiseste deitar-te ao meu lado, para dormir. Com a porta aberta, porque segundo dizes "Mamã, tenho medo do escuro"! Entretanto resolveste ir para o teu berço, quiseste saír, e disseste que ías fechar a porta. Disse-te para não o fazeres. Dizes-me atrevida: "Porquê mamã... também tens medo do escuro?". Sem comentários...

segunda-feira, novembro 08, 2004

Vamos de "Fim-de-Semana", quando toda a gente começou mesmo agora a trabalhar. Paciência... a mamã não tem culpa de ser ao contrário de (quase) todos! Vamos dormir aqui. E, se estiver bom tempo, vamos aqui e aqui. Porque aqui convém que o tempo não esteja lá muito bom! Voltamos Quinta-Feira...

domingo, novembro 07, 2004

Um dia, filhota, vais aprender que existem pessoas que nunca conhecemos, nunca vimos, com quem nunca conversámos, mas que fazem parte do nosso dia-a-dia! A mamã descobriu isso aqui, na Internet, onde aliás a tua própria história começou...
Hoje é um dia feliz, daqueles pintados pelas mãos de Deus, em que tive a notícia da chegada da Gabriela. Uma menina que vive lá longe, do outro lado do mundo. A quem a mamã deseja tudo aquilo que te deseja a ti! Uma vida saudável, e plena de amor e felicidade...

quinta-feira, novembro 04, 2004

És gulosa como ninguém, ou como a mamã. Aproveitas todas as oportunidades para pedir mais um rebuçado, ou um chocolate, ou um bolo. E dizes: "Só três", com os deditos levantados, como se três fosse pouco.

Este ano, no dia de todos os Santos, lá foste tu recuperar uma memória que tenho de menina. Quando acordava cedinho, cedinho, por vezes ainda de noite, com uma ansiedade do tamanho do mundo. Quando tinha que esperar, por imposição do avô, que chegassem as dez horas, quando acabava a missa. Depois lá ía, de saca na mão, com outros meninos, de casa em casa, a pedir bolinho. Há alguns dias que te ensinamos como se pede, mas insistes em dizer "Dá bolinho, tia"! É tudo a mesma coisa.

Mas este ano é especial. As primas "Biritiz" e "Matilde" também vão contigo, uma de cada lado, e saltas de alegria. Recuperaste aquele riso de bebé qua aprendeste a dobrar, e que nos faz rir a nós. E soltas gargalhadas infindáveis, debaixo de um sol quente, como a minha alma, que ter espreita.

No final da volta, já estás cansada e com fome. Andámos tanto, que até a nós, adultos, nos faz alguma diferença. É bom viver nesta aldeia, onde todos te conhecem e te mimam. É bom ver nos rostos uma vontade feliz de te ver, de te falar. A vida passa tão depressa, os nossos dias são tão curtos, a nossa rotina é tão fugaz, que por vezes esquecemo-nos que estes momentos são tão bons...

É bom ver-te adormecer, já cansada, num dia como o de hoje. Porque amanhã há uma caixa enorme de guloseimas para saborear...


segunda-feira, outubro 25, 2004

Às vezes, ou quase sempre, fico espantada com o teu crescimento, e da maneira fácil em que se transforma em desenvolvimento repentino. Sempre achei que és estimulada como poucas crianças são, porque afinal nem todos têm o privilégio de ter uma educadora privada, a quem tens também a alegria de chamar avó.
Por isso os teus dias em casa nunca são monótonos. Ao ponto de pesares em pratos de balança se te apetece ou não, todos os dias, ir ao Infantário. À escola apelativa, pintada de cores, onde se multiplicam os jogos, as canções, e sobretudo os meninos, de quem tanto gostas. Onde fazes desenhos sem fim, dos quais te perguntei uma vez, romanticamente, qual seria a sua representação. Encolheste os ombros, como que a substimar a minha inteligência, e disseste simplesmente: "ó mamã... são riscos". E eu que julgava que, para ti, os riscos eram carrosséis, bombons, casinhas e brincadeiras.
Ontem cheguei a casa, farta do trabalho e de tudo. Qual soldadinho de chumbo, a avó exibe orgulhosa mais uma obra prima. Pede-te: "Helena, vai buscar a letra do nome da mamã". Trazes o V, que exibes aos saltinhos. Escolheste-o no meio de um puzzle colorido de todas as letras do alfabeto, com alguns números à mistura. "A da tia Patrícia e do Tio Pedro, e do Papá". Trazes um P com convicção. Segue-se o nome da Tia Rita. E depois: "Vai buscar a letra do nome da Helena!". E lá vais tu a correr, aos gritinhos. E eu, enternecida, deitada, extenuada e surpreendida. Trazes-me um M e um H. De Maria Helena.
Achei depois que te conseguia confundir, princesa, trocando a ordem das peças e das letras. Mas quem se enganou fui eu...

sexta-feira, outubro 22, 2004

Estás cheia de tosse, queres um xarope igual ao que o papá tem em casa. A mamã, descuidada como sempre, tenta arranjar um tempo para ir à Farmácia, entre o projecto "levar Helena à escola" e "correr-para-o-trabalho-porque-não-se-pode-chegar-tarde"!
Hoje, como é Sexta-Feira, é o teu dia preferido na escola. Antes do almoço, entras no autocarro que te leva à ginástica. Estás a adorar o "perssor", porque ele canta "agora vou passear, quem quiser pode acompanhar". E tu acompanhas... Mas enquanto te deixo, na escola, desejosa de ver o autocarro, pedes de novo: "mamã, não te esqueças de comprar o meu xarope"!
E a mamã lá foi à Farmácia. Entrou e perguntou se havia algum xarope para a tosse que se pudesse dar a um bebé. E a senhora perguntou: "bebé de quantos meses?". E a mamã, envergonhada, respondeu: "três anos". A senhora riu-se. E a mamã ficou a pensar em ti, meu bebé, tão grande mas tão pequenino, que ainda ontem nasceste, e já tens quase três anos...

segunda-feira, outubro 18, 2004

Chegou o Outono, princesa. Pintado de folhas, com cheiro a pregões de castanhas assadas e batatas doces. Chegou na chuva, que cai insistente, e nos molha as ruas e a alma. No frio congelante e anunciado, que me apanha sempre desprevenida...
Chegou o Outono, e tu estás em casa do papá. Falas comigo com voz de bebé acabado de acordar, e tenho a certeza que todos os meus dias são uma Primavera constante!

sexta-feira, outubro 15, 2004

A Ziggy tinha um dói-dói muito grande, e morreu e foi para o céu. Ficas indignada, a olhar para a gaiola, onde falta a coelha a quem todos dias de manhã fazias questão de dizer "Bom dia!". Queres saber onde ela está, e porquê, onde é o ceú, e porquê, onde era o dói-dói, e porquê, o que é que ela tinha papado, que lhe tinha feito mal, e porquê. E mais... porque é que ela era preta, porque é que escapava sempre que tinha oportunidade, porque é que fugia quando lhe querias fazer festinhas no pêlo fofinho, porque é que já não podes por-lhe comida na tacinha, que ela devorava, porque é que já não te morde os dedinhos,... porque tudo! A tua curiosidade pelo mundo e pelas coisas que te rodeiam é tal, que muitas vezes fico sem palavras, sem saber o que te dizer ou que te explicar. Certo é que decidi ver-te crescer sem esconderijos, sem tabus ou falsas verdades. Tarefa complicada para a mamã, que tantas vezes tem que inventar mil e uma histórias e personagens, para que a vida não seja para ti incompreensivelmente estranha.

Engraçado é ver, no fim dos relatos, a versão que utilizas, para contar a toda a gente. Na tua inocência não existem segredos. A não ser aqueles que contas baixinho, ao ouvido, a toda a gente numa sala. A toda a gente! No outro dia houve uma reportagem na televisão lá perto da casa da avó, lembras-te? Quiseste saber o que é que os senhores lá estavam a fazer, o que é que ía aparecer na televisão, e porquê. Hoje contas alegremente que os senhores queriam cortar a estrada, mas o Manel não deixou, nem os outros senhores que vieram. E agora não se pode fazer uma ponte maior. Contas também que na escola, quando estás a papar a chicha a Carolina, que é feia, puxa o "gómito", e não papa a sopa toda, e fica de castigo, porque faz xixi nas cuecas e não come os bombons e as bolachas. Contaste no outro dia que a avó Lurdes e a Velha tinha ído ao "méquido", para papar comprimidos, daqueles que são bolinhas pequenas de cores, que tu ao longe invejas. Contas a quem te quer ouvir que o avô Emídio morreu e foi para o céu, porque, como a Ziggy, tinha um dói-dói muito grande. Perguntas-me, quando tenho uma dor de cabeça já habitual, se também vou para lá. Sossego-te e digo que não. A mamã está aqui e fica contigo até tu quereres e Deus permitir.

E fica a olhar para ti, e a ouvir-te crescer, baixinho. Como já te prometeu...

sábado, outubro 09, 2004

Hoje tenho a certeza que vivi um dos momentos mais felizes da vida! Daqueles que permanecem em nós, e vivem connosco, e se transformam em imagens eternas...

Tu, que não querias dormir, como sempre. Eu contigo, deitadas na cama. Não resisto aos teus apelos de menina e regresso ao passado. Em vez de te ralhar, ou de te tentar sossegar, faço-te cócegas sem parar na barriga. Não aguentas e ris às gargalhadas, enquanto gravo em mim instantes do teu riso.

Se morresse hoje, morria feliz. O teu sorriso cheira à minha infância, e a pão com marmelada!

sábado, outubro 02, 2004

Hoje é um dia que a mamã não pode deixar passar em branco, por ser em tempos um dia feliz. Quando a casa de avó se enchia de alegria e de cores, de música, de gentes e de cheiros. Numa azáfama que não conheceste. Os amigos, a família, os conhecidos, apareciam todos, e as surpresas sucediam-se. Um mágico, um cantor, ou um porco no espeto. Como se fossem as coisas mais naturais do dia-a-dia. Uma senhora que levitava, uma pomba que aparecia de uma cartola, uma roda de sorrisos e de gentes, balões, fitas, comida e bebidas. Mesas intermináveis, cadeiras mil. Sonhos tão perto da felicidade. O avô Emídio, que não conheceste, fazia hoje 52 anos...

Falar-te do teu avô é difícil, bebé. Era altivo nas acções e nas palavras, era respeitador. Era duro nas alturas certas, sempre atento, preocupado em cultivar-nos. Amava a vida, a família, os amigos. Era orgulhoso daquilo que nos deu, de quem nos tornámos, do que nos podia proporcionar. Incutiu-nos o gosto e a curiosidade pelas viagens e pelo mundo. Ensinou-nos a crescer com valores fortes, com personalidades vincadas, com vontades universais. Deus deu-te o seu sorriso, as suas expressões, o seu queixo redondinho...

Hoje não celebramos os 52 anos de vida do avô, mas existe em mim um misto de alegria e de saudade. Choro com mágoa, pela perda, mas no fundo apetece-me sorrir. Porque com o tempo, filhota, a saudade das pessoas boas que conhecemos, de quem sofremos a falta, transforma-se em carinho, em amor forte, em esperança. Transforma-se numa coisa doce, num relembrar feliz. Porque o avô era tão especial e gostava tanto de nós, e queria tanto ter a certeza de que a nossa vida ía ser pautada pela alegria.

Hoje não celebramos o seu aniversário, mas sim aquela pessoa, aquela vida que não morreu, e que está sempre presente, todos os dias, dentro de nós...

sábado, setembro 25, 2004

Há senhores, senhoras, meninos e meninas que não têm a felicidade de nascer como tu, saudáveis. Como aqueles que a mamã conheceu quando era da tua idade, e ía para a escola onde a avó dava aulas. Aqueles que muitas vezes não aprendem a ler, escrever, ou sequer a falar. Aqueles cujos olhinhos foram maus e não vêm nada para além de escuro, como do teu quarto, que não gostas. Aqueles a quem Deus levou sem querer as perninhas, ou os bracinhos. São pessoas diferentes, não deficientes, mas com deficiências. E lutam, como a mamã, e como todos nós, por uma vida melhor, mediante os condicionalismos que têm. Lutam contra uma sociedade ou um grupo de outras pessoas que os marginalizam e os desprezam, porque, ao contrário da mamã, não cresceram com eles.
No outro dia víamos atentas estes senhores a jogarem uns jogos especiais na televisão. Era uma prova de natação, numa piscina enorme de azul, onde tu gostas tanto de mergulhar, amor. E a mamã chorava compulsivamente, não de tristeza, mas de orgulho. Por sentir que há países onde estas pessoas diferentes são valorizadas, e apoiadas, e queridas, e vangloriadas. Porque o mundo está a mudar, e no nosso país, felizmente, nem que seja apenas nestes dias, todos nós nos preocupamos com as diferenças destes senhores, e senhoras. Porque o dos senhores que nadava, parecia um peixinho, e não tinha braços, e nadava com mais força do que todos. Quanto mais ele nadava, com o corpo ondulante à tona da água, mais a mamã, tonta, chorava!
No final ganhou. Saiu da água com um sorriso estampado nos rosto, e uma alegria desmedida que visivelmente lhe saltava do peito. A mamã chorava mais ainda. E tu, indignada, quase zangada, dizias: "O senhor não tem braços. Assim não pode vestir a roupa..."

sábado, setembro 18, 2004

Passo a vida a tentar compensar-te pelo que não consigo ser, amor.
Hoje ía a conduzir em direcção a um restaurante de fast-food, enquanto na tua cadeira, no banco detrás, batias palminhas de alegria e cantavas. Estás feliz, porque estou contigo. Não te cansaste de repetir "mamã, hoje vou contigo!". Como se fosse a coisa mais extraordinária que fizeste nos últimos tempos... Mas não deixavas de ter medo que te levasse para a escola. Conheces o caminho, e pensavas que te estava a enganar. Já te apercebes de tudo, mas a mamã não te mente. Nunca...
O problema, amor, é que a mamã teve quis mudar de vida e de trabalho, e ficou mais longe de ti, dos teus horários, da tua vida. A mamã deixou de poder levar-te à escola todos os dias, deixou de passar os fins-de-semana sempre contigo, e muitas vezes, quando chega à noite, já tu dormes descansada e feliz.
Mas tenho medo, querida. De não corresponder aquilo que esperas de mim. Porque sinto que sentes a minha ausência. Porque me pedes para não trabalhar, ou para te levar comigo. Não posso, linda...
Mas acredita, bebé, que este é um momento mau de nós, que vai passar. E que a mamã, quando te deixa, fica mais pequenina. Porque queria estar contigo sempre! Por isso é que tenta compensar-te com outras coisas. Na esperança de que um dia a vida se altere e melhore, e possamos ser nós duas outra vez...

quinta-feira, setembro 16, 2004

A mamã bem de esforça, e luta, e refila, e esperneia, mas a vida é difícil, e prega-nos partidas. Nem sempre o que queremos, ou desejamos se realiza. Há dias bons, outros nem tanto. E hoje é dia de nem tanto. Desculpa, querida...

sábado, setembro 11, 2004

A mamã saiu de casa com o papá, fez três anos, num dia normal de férias e de compras. Ías chegar, passado pouco tempo, e era necessário antecipar o teu regresso. Naquela altura, parámos num restaurante onde dezenas de rostos incrédulos olhavam para a televisão a fixar imagens que julgámos, inicialmente, serem de um filme. Bastante real...
Há coisas que os grandes fazem, amor, que não têm explicação. Como matar milhares de papás e mamãs de outras crianças, que a única coisa que faziam, naquele dia, era trabalhar. Afinal, era um dia tão vulgar como os outros.
Quando cresceres, princesa, vais perceber que o mundo nunca mais foi o mesmo, desde aquele 11 de Setembro. E que a palavra medo ganhou outro sentido.
Desde aquele dia que tenho a certeza que, aconteça o que acontecer, permaneces em mim e eu em ti, e não há barreiras, nem homens, nem aviões, nem tristezas, nem ausências, nem perdas, nem dores que me afastem de ti.
Porque hoje, se é possivel, e por respeito a quem perdeu quem mais amava, a mamã ainda te ama mais...

quinta-feira, setembro 09, 2004

Detestas acordar de manhã, bebé! Limitas a tua vidinha pequena aos horários que estabeleceste, e é tão difícil contrariá-los. À noite nunca tens sono. Queres sempre brincar até ao último minuto, escorrergar, ler, pintar... Ou, se por algum motivo, há mais gente em casa da avó, não páras até que a última pessoa se vá embora. Aguentas e combates o sono, guerreias com os olhos, que teimam em fechar, e continuas em grande animação. Chego a pensar que o avô, lá do céu, em vez de te guardar umas asas lindas, brancas e fofas, te deu pilhas. Daquelas que se carregam, todas as noites, e duram, duram, duram...

Toda a gente diz que é bom seres assim, agitada. Também acho, amor. Estimula-te os sentidos. O contacto connosco, os grandes, permite-te grandes façanhas, tais como: reconhecer desde à muito tempo, a letra "A", sem dificuldade; contar até 10 na perfeição, reconhecendo tambem já alguns números; falar correctamente, sem esquecer nenhuma letra. Consegues até, de vez em quando, acrescentar uma ou outra palavra ao nosso dicionário. No outro dia, apontavas para o rabinho e dizias "Mamã, tenho duas "safufas". Uma deste lado e outra deste". Tens razão, querida... a palavra é sem dúvida mais bonita do que bochechas! Não fosse eu tua mãe, para não te achar a mais linda, a mais inteligente, a mais perfeita. É um estatuto que se me confere desde que nasceste. Ser tão pouco subtilmente orgulhosa de ti!

Mas o teu sono, filhota, é que me tira horas de cama a mim. Tenho que acordar 90 minutos antes do trabalho, para que possas estar pronta a tempo, o que é ridículo no ambiente em que vivemos. Não há filas de trânsito, não há stress, não há nada! Só tu, calma e alva, que permaneces num sussurro quente, de respiração doce. E eu, cá com os meus botões, vou inventando métodos que te arraquem dos braços de morfeu. Como ontem, que te prometi que se acordasses, que podias desarrumar o quarto todinho. E era ver-te com uns olhos enormes, a acordar...

sábado, setembro 04, 2004

Queres sempre falar ao telefone, tonta. Começas aos saltinhos, e a dizer "quero falar". E eu adoro falar contigo. Acabo sempre às gargalhadas. "Tu chamas", e eu respondo "Maria Cachucha", ao que tu dizes a rir "Não és nada, és a Maria Mamã". E tu quem és? "Joana", dizes com convicção. Adoras o nome, e isso faz-me pensar.

Também não escolhi o meu nome, filhota, ninguém escolhe. Houve até alturas em que o detestava. Actualmente adoro. Fica-me bem, está bem comigo. E o teu tem uma história simples, que te posso contar querida. Estava um dia no escritório onde o papá trabalhava na altura, que tinha muitos contactos com a filial espanhola, onde havia uma Elena. Assim que olhei para o nome tive a certeza que era assim que te chamarias. É forte e feminino, como tu, com um toque se sensualidade, de sonho e de luz. D' A Minha Luz.
Portanto foi consensual. Tinhas que ser Maria, por convicção. Para fazer renascer a tradição portuguesa, sem aquela herança forte e pesada dos símbolos religiosos inerentes. Maria cheira a frescura de nuvens e a azul de céu. Tem textura de lençóis brancos acabadinhos de passar. E Helena sabe a bombons, a chupa-chupas e a gomas docinhos como tu...

sexta-feira, setembro 03, 2004

Tinhas poucos meses quando achei que era altura de me separar de ti, de te abrir os horizontes! Foi em Julho, pouco tempo antes de seres baptizada, quando inventei mil e uma desculpas para não te deixar nos braços de outra pessoa! Era uma casa nova, algumas caras novas, novas mamãs, muitas crianças. Mas um sítio daqueles que nos transmite confiança. Como se fosse a casa. A nossa casa. Agora sei que foi mais difícil para mim do que para ti! Quando ficavas ao colo da Bela sorrias, ou rias às gargalhadas. E foi, durante tantos meses assim. Eu, agarrada ao telemóvel. Nunca mais o desliguei um só segundo. Cheguei a testá-lo vezes sem conta, para ter a certeza das certezas de que estava a trabalhar, a funcionar, em perfeitas condições. Com medo que te acontecesse alguma coisa. Sempre...
Ao fim ao cabo tinham sido sete meses de mim e de ti. De nós, das duas. Em que tinha aprendido tudo contigo, em que tinha apelado ao meu instinto que te protegesse, e que te amasse de uma maneira tão perfeita, tão incondicional. Custou-me. Doeu-me muito. Tive ciúmes. Sempre a negar a mim própria que tu, minha menina, crescias com as flores, ao som da música, com o bater suave do vento na janela. Crescias depressa, e soltavas-te de mim!
Agora já me habituei às tuas fases. Houve um tempo em que a escola te assustava, não te cativava. Que preferias ficar comigo ou com o papá, em casa, na praia, ou simplesmente a brincar. Tinha que te mentir para te levar, sem que chorasses compulsivamente. Nessa altura sim, doía, porque te sentia receosa, e pactuava com o facto de saber que ficavas insegura. Tu, insegura... a minha menina determinada...
O tempo passa, amor. Os dias sucedem, as noites acontecem, as estações do ano mudam. Tens feito de mim uma Primavera constante, pintada de cores. E só agora, que começa o Outono, me apercebi que cresceste muito mais do que esperava. Estás na pré, amor. Mudaste de sala. E estás tão feliz. A mamã comprou uma mochila nova, que só as meninas crescidas têm. Com rodinhas e tudo. Cor-de-rosa. E tu não a largas. Como que a anunciar a tua independência. Puxas por ela a toda a hora. Enches as bolsinhas de brinquedos, de roupa, de tostões, e és feliz. Na tua sala nova, onde vais aprender a ser maior, fizeste-me um desenho igual a tantos outos que já fizeste, nas paredes ou no papel. Mas este, filhota, é especial. Porque é o início ou o princípio ou a continuação da tua vidinha pequena. Tão fresca e tão doce como tu...

sexta-feira, agosto 27, 2004

A mamã tem que trabalhar quando os outros papás e mamãs já estão em casa, com os filhotes. É por isso que, às vezes, não te vai buscar à escola. É por isso que, quando "tá Domingo", ficas com a avó, vais ver as galinhas da Tia Maria, ou vais à loja e ao Café, com os tostões, como tanto gostas! És igualzinha à mamã quando tinha a tua idade: preferes ter três moedas de valor inferior a duas de maior valor. Mas pelo menos já te ensinei a distinguir as "pretas" das "brancas". A mamã não quer que ponhas as "pretas" no mealheiro, que é um porco, que vai pagar as nossas férias do ano que vem, no avião. Gostaste tanto de andar de avião. Eu tenho medo, como o avô Emídio tinha, que nunca chegaste a conhecer. Está no céu, como te ensinei. Foi para o céu, alguns meses antes de nasceres. Tens o sorriso dele. Espero e anseio que dele tenhas também outras coisas: a simpatia, a humildade, a alegria, e sobretudo uma capacidade inesgotável de amar tudo: a vida, as pessoas, os lugares.
O avô Emídio é e vai ser sempre uma referência. Só o conheces das fotografias, mas eu faço questão que ele esteja presente nos teus dias. Era o papá da mamã. Que deu colinho, que levou a mamã a conhecer o mundo, que fez sempre questão que a mamã estudasse, e que não lhe faltasse nada, que ensinou a mamã a sonhar. O avô teve um dói-dói muito grande e Deus deu-lhe umas asinhas. Brancas e fofas, como o algodão doce. A mamã fala muito com ele, pede-lhe muitos conselhos, e lamenta apenas que ele nunca tenha tido o prazer de te tocar, de te cheirar, pequenina. Um dia, quando fores maior e conseguires perceber, a mamã leva-te ao sítio onde a alma do avô Emídio descansa!
A vida é assim, bebé. Leva-nos, por vezes, quem nós mais amamos. Mas a ausência física não significa falta de amor. Como agora. Eu estou aqui, sozinha. Tu estás em casa do papá. E eu vou-me lembrando de ti, do seu sorriso, e a única coisa que consigo fazer é chorar. Porque sou feliz. Porque apesar de tudo, apesar do avô ter asas, e estar no céu, apesar de não estar ao pé de ti, apesar de não poder conversar contigo. Apesar de tudo. Tenho-te. E basta...

quinta-feira, agosto 26, 2004

Quando vais para casa do papá é sempre a mesma alegria. Agora no Verão, com a praia cheia de crianças, o teu sorriso rasga-se ainda mais e corres indefinidamente para que te vista o biquini. Queres o escorrega, queres andar no baloiço, queres a toalha do Batatoon e os óculos de sol. Nem preciso de te dizer três vezes que tens que ir no carrinho, porque assim que me apercebo já subiste e já apertaste os cintos, cuidadosamente.
Gostas do sol, atrai-te o mar. Diria, se fosse possível, que é genético. Meu, não herdaste o medo, e o respeito. Apenas o fascínio do papá, a atracção. Não queres saír dos barcos, inventas histórias sem fim, segues à risca as normas de segurança que te obrigam a usar o "coleto". Misturas-te facilmente na multidão, e depressa encontras ou fazes amigos, num código secreto que nem ouso entender. Falas com toda a gente, ris-te, e não páras. Com uma energia inesgotável, percorres o areal imenso e regressas, sempre com a mesma alegria. Saltas para a água, mergulhas, enches-te de areia, fazes desenhos e castelos.
E eu fico a ver enquanto te afastas. Adoro ver-te assim, sabias? Sento-me na esplanada e registo cada passo teu, cada movimento que não quero perder. Oiço de longe os teus gritos e tenho a certeza de que és feliz. Pena que a vida não seja um Verão eterno!
Quando regressas, já cansada, és muitas vezes vencida pelo sono. Quando ainda resistes a chegar a casa do papá acordada, adormeces profundamente em cima da mesa do jantar. Venceste as ondas pequenas do mar, os montes de areia brilhante, o soprar confuso do vento, os brinquedos das outras crianças. Mas quem te venceu foi Morfeu, que te leva para longe, em sonhos profundos. E eu fico a adivinhar, quando sorris enquanto dormes, que nos teus sonhos há mais praias. E uma areia fofinha e quente, prestes a ser pisada...

sexta-feira, agosto 20, 2004

"Amanhã o João Pedro mordeu-me", dizes com o olhar triste, enquanto me mostras mais uma boquinha marcada no braço. Os dentinhos perfeitamente desenhados, a denunciarem a dor. As dores. Nos últimos dias tem sido sempre assim! Apareço no Infantário, para te levar para casa, muitas vezes sabe-se lá com que humor. Mas assim que entro, sei que acabaram os problemas, as angústias, os medos, enfim. Assim que passo a porta abro os braços e recebo-te com um sorriso e uma saudade tão grande de te abraçar. Mas estás triste, ou pareces aliviada quando me vês. Dantes corrias para o meu colo, enquanto gritavas pela "pepê", ultimamente não, tens medo.
A mamã queria ficar contigo, proteger-te, sofrer por ti as tuas preocupações. Queria viver por ti o teu dia-a-dia, salvar-te dos dentes eficazes do João Pedro, dos ataques constantes da Solange, ou simplesmente estar ao pé de ti, para te embalar, enquanto lutas fortemente contra o sono, num choro suave. Mas a vida não é assim, querida. Ensina-nos, desde cedo, a criarmos as nossas metas, a ultrapassarmos as barreiras e as dificuldades. Ensina-nos a viver em conjunto, para o bem e para o mal. A vida é simplesmente um Infantário grande, onde lutamos pelos nossos direitos, pelas nossas convicções, pelas nossas paixões. E tu, tão pequena, já te vais apercebendo.
E eu, filhota, que sou tua mãe, que te tenho para sempre, ouvi um dia uma verdade tão verdadeira e tão única que me ensinou a mim a reagir às tuas tristezas. Não posso evitar que caias, princesa, mas posso estar lá, sempre, para te ajudar a levantar...

quinta-feira, agosto 19, 2004

Aqueles "senores" e "senoras" que vês na televisão, filhota, são desportistas. Correm como tu, quando foges quando te quero pentear, lutam como tu, pelos brinquedos do infantário, nadam como tu, na piscina da avó, de onde nunca queres saír, chutam a bola com força como tu, enquanto gritas "gooollooooo"! Estão nos Jogos mais antigos que conhecemos, que começaram na Grécia, para onde regressaram! São heróis do nosso tempo, como a Branca de Neve e o Patinho Feio. Enchem-nos de orgulho e de esperança no futuro. Renovam as forças e procuram sempre, sempre, fazer o seu melhor. E a mamã vê o atletismo, a vela, o futebol, o box, tanta coisa, que fica a pensar no que te deve dar, ou porporcionar. Porque estás crescida, mel, e qualquer dia é a tua vez!
Se a personalidade se adivinhasse, serias bailarina. És feminina, vaidosa, meticulosa. Procuras sempre alinhar os brinquedos, e as roupas. Adoras estar bonita. Sentes-te bonita. Sabes que és bonita! Mas também serias futebolista. Tens força, és destemida, acreditas. E não tens preferência de clube. És de todos, consoante a ocasião. Gritas apenas "Putugal", enquanto agitas a bandeira e o cachecol. Ou serias velejadora. A tua atracção pelo mar é genética. Só pode ser. Pedes vezes sem conta ao papá que te leve com ele, enquanto ensina os outros meninos. Não tens medo, e insistes sempre que queres o teu "coleto". No outro dia passeaste com ele pela casa, horas a fio! E nadadora? bates os pezinos, freneticamente na água. Mergulhas, saltas, brincas! E a mamã cada vez fica mais confusa!
Não preciso que ganhes medalhas, nem que te ponham coroas de flores na cabeça, enquanto erguem a bandeira do teu país. Não preciso que aplaudam a tua passagem, e que te relembrem ano após ano, pelos feitos desportivos históricos. Porque heroína já tu és, em mim, na minha vida. E faças o que fizeres, sejas quem fores, pratiques o desporto que praticares, vais ser sempre a Helena. Aquela que ontem à noite, baixinho, me perguntou "mamã, és a minha amiga?"

segunda-feira, agosto 16, 2004

A madrinha da mamã vive muito longe daqui. Mais longe, do que o caminho que julgas distante, que te leva ao infantário onde às vezes te deixo. Tão longe, que os teus dedinhos não são suficientes para contar as horas que demomoraríamos a lá chegar. A madrinha da mamã, a tia "Imelinda", como dizes, teve uma vida carregada de coisas más, porque há homens maus. Como o Lord do Shrek, que o persegue, ao qual tu fazes feias. Lembras-te?
Por isso é que a mamã, sempre que pode, enche a madrinha de mimo. Por isso lhe telefona, tantas vezes, por isso pensa tanto nela. Porque ela, lá de longe, também sente muito a nossa falta. Por isso é que hoje decidi tirar-te fotografias, amor. Porque queria que a madrinha, ao ir-se embora lá para longe, levasse um bocadinho de ti na mão. Porque no coração já ela te trás desde que nasceste!
E tu surpreendes-me sempre, pequenina. Como que se adivinhasses as minhas vontades. Visto-te o biquini, antes de ires feliz para a praia, sento-me à tua frente, com a máquina do papá, e tiro-te fotografias sem fim. Sinto e sei que tenho que perpetuar cada momento teu, cada gesto, cada expressão. E tu, vaidosa como sempre foste, vais mudando de posição, com as mãos na cintura, e sorrindo. Porque sabes que és linda, sabes que, para onde vais, ou por onde passes, todos te contemplam. Tens brilho, filha! Tens cor! E tens a mamã mais orgulhosa do mundo...

sábado, agosto 14, 2004

Como é que te explico, princesa, que a vida nem sempre nos corre como queremos, ou como idealizámos. Como é que justifico a ausência de alguém que faz tanta falta aos teus dias? Como é que consigo, contigo, assumir a minha incapacidade de, no passado, te dar a família que tive, e desejei para ti?

A mamã passa os dias a trabalhar, com horários incertos, por isso é que há tantas vezes que não chega a ver-te. Mas é só por ti. Para que cresças, com saúde, com tudo o que a mamã teve. Sabes, faço questão em levar-te a conhecer outros mundos, como no outro dia em que foste aquele museu da ciência, e gostaste tanto. Ou como naquelas férias, no hotel da praia, onde os teus horizontes se resumiram à piscina, tão grande e tão azul. Um dia vamos rir as duas quando te contar que fomos ao Teide, e que não fizeste outra coisa senão dormir. Ao meu colo. Como quando eras pequenina! Aquelas paisagens únicas, meu amor, passaram ao lado do teu sono profundo, e eu sei, nas histórias que te conto, que fazem parte dos teus sonhos, e das tuas fantasias.

O papá vem buscar-te às vezes, quando combinamos. E eu faço tudo o que consigo e que não consigo para que não sintas a sua ausência. Sei que o chamas, quando te aborreces comigo. Sei que sentes saudades. Mas filhota, não fui capaz. Vivemos todos juntos, mas naquela altura não me sentia bem. Talvez a minha relação com o papá tivesse sido tão repentina, que se tornou efémera. E como é que te explico o que é que isto quer dizer? A nossa casa agora está fechada, há quase um ano que não consigo entrar lá. Sempre que lá vou, querida, choro como se fosse uma menina como tu. Apesar de tudo, aquela é a casa. A nossa. Onde tudo foi pensado, imaginado, e cuidadosamente feito para que fossemos felizes assim. Mas os homens e as mulheres, ao contrário das crianças, teimam em complicar coisas tão simples como o amor. Hoje sei o que é o amor, porque te tenho...

Mas filha, o papá e eu, lá nos vamos entendendo. Quase um ano de ausência e de distãncia fez-nos bem. E eu re-aprendi a amá-lo. Sem falsidades, sem desconfianças. Aproveitei o que de melhor tínhamos tido, e tento aos poucos reconstruir uma relação que deixámos degradar, sem eu me aperceber. Comecei do nada de novo, minha filha, porque anseio todos os dias ter resposta para te dar quando me perguntas porque é que não estamos todos juntos. É o teu desejo, querida, e o meu também...

sexta-feira, agosto 13, 2004

Cresceste tanto, filhota, que as roupas já não te servem. Cresceste desde ontem, quando saí de casa, e dormias profundamente, numa calma que só a ti reconheço. Cresceste desde que te afaguei os cabelos e te beijei a face, enquanto sorrias. Quando olho para ti, sei e tenho a certeza de que a felicidade existe. Porque desde que nasceste, que sou mais feliz. Não só porque vieste preencher um vazio deixado pela ausência do teu avô, talvez por teres cara de anjo, como ele. Sabes que são parecidos, filha? Tens o mesmo nariz pequeno, e arrebitado, fazes as mesmas expressões, e o queixo é inconfundível. Por isso tenho a certeza de que foi Deus que te trouxe, para nos compensar a todos, pela tristeza profunda que tínhamos atravessado.

Mas filhota, desde que te vi pela primeira vez, tive a certeza de que estávamos unidas para sempre. Apesar de te terem cortado o cordão ao fim de 36 semanas dentro de mim. Apesar de, algumas vezes, ter que te deixar, e não ficar ao pé de ti, como gostava e como merecias. Habituei-me á tua presença, ao teu cheiro. E a primeira coisa que faço quando te vejo, é cheirar-te. Para ter a certeza que estás ali, ao pé de mim, e que és a Helena. A minha Helena. Sabes que, apesar de nunca querer saber, sempre soube que eras tu? Sonhava contigo, com a tua presença, sentia o bater dos teus pezinhos. E quando te viram nascer, quando me disseram que eras uma menina, a minha menina, tive a certeza de que a natureza não se engana, e eu também não me tinha enganado.

Querida, há dias dei por mim a recordar os ainda poucos momentos da tua vida. Porque tenho medo, ou receio, que as memórias se percam. Tenho medo de me esquecer de alguma das tuas fases. Lembro-me de te achar tão pequena, e ver-te tão linda, quando nasceste. Sei que te amamentei por pouco tempo, mas que te dei tudo de mim, nos teus primeiros meses, apesar de às vezes me sentir meio perdida. Lembro-me quando te levei para o Infantário, e o que me custou deixar-te ao fim de 7 meses de uma presença constante. Lembro-me das tuas primeiras palavras, ou dos dentes que teimavam em não nascer, e das vezes a fio que me chamaste papá, quando te ía buscar à escola. Sou a mamã, filha. A mamã que se aborrece contigo, quando fazes asneiras, e que te compensa quando és menina bonita. A mamã que se ri dos teus disparates, da altivez com que dizes o teu nome todo, e da segurança com que, do alto dos teus dois anos, contas os dedinhos, até dez, sem te enganares. Sou a mamã, que chora quando tem que ir trabalhar até tarde, quando tu lhe pedes para ficar, que se emociona com as tuas descobertas e vitórias do mundo, e sobretudo que faz questão, muita questão, de te ensinar a ser feliz. Mas tu, na tua pequenez, é que me tens ensinado quase tudo!