Tinhas poucos meses quando achei que era altura de me separar de ti, de te abrir os horizontes! Foi em Julho, pouco tempo antes de seres baptizada, quando inventei mil e uma desculpas para não te deixar nos braços de outra pessoa! Era uma casa nova, algumas caras novas, novas mamãs, muitas crianças. Mas um sítio daqueles que nos transmite confiança. Como se fosse a casa. A nossa casa. Agora sei que foi mais difícil para mim do que para ti! Quando ficavas ao colo da Bela sorrias, ou rias às gargalhadas. E foi, durante tantos meses assim. Eu, agarrada ao telemóvel. Nunca mais o desliguei um só segundo. Cheguei a testá-lo vezes sem conta, para ter a certeza das certezas de que estava a trabalhar, a funcionar, em perfeitas condições. Com medo que te acontecesse alguma coisa. Sempre...
Ao fim ao cabo tinham sido sete meses de mim e de ti. De nós, das duas. Em que tinha aprendido tudo contigo, em que tinha apelado ao meu instinto que te protegesse, e que te amasse de uma maneira tão perfeita, tão incondicional. Custou-me. Doeu-me muito. Tive ciúmes. Sempre a negar a mim própria que tu, minha menina, crescias com as flores, ao som da música, com o bater suave do vento na janela. Crescias depressa, e soltavas-te de mim!
Agora já me habituei às tuas fases. Houve um tempo em que a escola te assustava, não te cativava. Que preferias ficar comigo ou com o papá, em casa, na praia, ou simplesmente a brincar. Tinha que te mentir para te levar, sem que chorasses compulsivamente. Nessa altura sim, doía, porque te sentia receosa, e pactuava com o facto de saber que ficavas insegura. Tu, insegura... a minha menina determinada...
O tempo passa, amor. Os dias sucedem, as noites acontecem, as estações do ano mudam. Tens feito de mim uma Primavera constante, pintada de cores. E só agora, que começa o Outono, me apercebi que cresceste muito mais do que esperava. Estás na pré, amor. Mudaste de sala. E estás tão feliz. A mamã comprou uma mochila nova, que só as meninas crescidas têm. Com rodinhas e tudo. Cor-de-rosa. E tu não a largas. Como que a anunciar a tua independência. Puxas por ela a toda a hora. Enches as bolsinhas de brinquedos, de roupa, de tostões, e és feliz. Na tua sala nova, onde vais aprender a ser maior, fizeste-me um desenho igual a tantos outos que já fizeste, nas paredes ou no papel. Mas este, filhota, é especial. Porque é o início ou o princípio ou a continuação da tua vidinha pequena. Tão fresca e tão doce como tu...
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