Já te escrevi, vezes sem conta, já falei de ti. Falo contigo. Já me fartei de lamentar a tua perda. Lamento-o por ti. Por saber o quanto gostavas de viver. Já passei noites seguidas a sonhar que não aprovavas as minhas escolhas, que não apoiavas as minhas decisões. Pelo que sinto por ti, fiquei mais insensível a outras perdas. Numa dor, que me consome devagar, escondo outros medos. Não imagino uma dor semelhante. Não me imagino sem ti.

Já te procurei. Procurei sinais teus. Que me dessem o conforto que não sinto. Sinais de que os tempos maus passam, que os melhores vêm. Sinais da tua vida que perdi nos braços naquele dia. Sinais da tua alegria, que recordo, vezes sem conta.

Quando me olho ao espelho vejo-te a ti. Vejo-te no sorriso da tua neta. Mas fazes-me falta. Tantas vezes. Fez-me falta nunca te ter dito que me fazias falta. Faz-me falta chorar mais, ou encontrar forças para sorrir quando me lembro de ti.

Pensava que esta dor passava com o tempo. Que atenuava com a idade. Que, à medida que fosse crescendo, fosse substituída por outro tipo de sentimento. Está tudo cá, como no início! Sempre cá. Sempre comigo. Acompanha-me sempre. Lembro-te sempre. Vai ser sempre assim. É disso que tenho medo. Porque nunca consegui libertar-me. E já passaram quase 5 anos.

Fazes-me falta, e não consigo sentir raiva por te ter perdido. Só saudades...