quinta-feira, setembro 07, 2006

A morte explicada às crianças...


Naquela madrugada nem queria acreditar. A mensagem no telemóvel tardia, confirmava aquilo em que nunca pensei que podia acontecer, refugiada na minha ignorância face à medicina. Sem saber o que dizer, telefonei à mana. Talvez não tenha mesmo dito nada! E não dormi mais. Fiquei preocupada com a Helena, sem saber como explicar. Com a certeza de que teria que o fazer. E peguei nos meus livros de recurso, as Bíblias das crianças, como me disseram um dia. Que têm servido muito para me explicar tanta coisa:
"A aprendizagem relacionada com a perda e o desgosto pode ser uma experiência importante para uma criança. Pode ser também uma oportunidade para toda a família compartilhar os sentimentos, as crenças e as defesas necessárias para enfrentar o desgosto (...) Não podemos nem devemos tentar proteger os nossos filhos de uma identificação profunda e afectuosa com aqueles que sofrem uma grande perda, nem podemos evitar o seu próprio desgosto. Este constitui uma parte vital e inevitável da vida. Sentir saudades de alguém que desapareceu temporária ou permanentemente permite à criança aumentar muito a sua capacidade de se preocupar com os outros (...) Isto dá-nos aso a que possamos explicar-lhes os nossos próprios sentimentos relativamente à morte, bem como as nossas convicções acerca da religião, da vida depois da morte e das recordações que mantêm os outros vivos, mesmo depois de morrerem (...) As explicações sobre a morte podem ser adaptadas à idade da criança. Devemos dizer-lhe aquilo que achamos que ela é capaz de compreender. E isso não precisa de assustar. Poderão dizer, a título de exemplo: (...) Tudo o que podemos fazer é recordá-lo. Gostaria de conversar contigo sobre todas as coisas que te lembras a respeito do avô, para que desse modo possamos continuar a tê-lo connosco."
Quando a Helena acordou, com o coração mais sossegado, lá lhe fui explicando, enquanto se encaracolava ao meu colo, que o tio por estar tão doente tinha partido. Que nunca mais o íamos ver, que o corpo já não estaria presente, que o espírito estava no céu, mesmo ao lado do avô. Que podíamos rezar por eles, que eles íam olhar por nós, como os anjos. Reagiu bem. Perguntou-me detalhes da doença, e disse-me que se iria esquecer dele, porque não o via. Disse-lhe que o tio estava no coração, mas que lhe podia dar uma fotografia para ela guardar e olhar sempre que quisesse. Sorriu, escolheu a fotografia e guardou-a no cantinho dela.
E eu continuei a apreender a ser mãe...

5 comentários:

Anónimo disse...

E eu continuo a aprender contigo...TANTO!!!

Como seria bom se vissemos a morte com outros olhos...

Apesar de eu acreditar que morrer é um novo começo... que para além da morte exite uma nova vida à nossa espera, continuo a teme-la, como nunca temi nada na vida!

Bjinhos na tua pequenina e para ti,
Sandra Brema

Anónimo disse...

Esse livro é realmente uma grande ajuda.
Pena termos de o utilizar por motivos tão tristes.
Beijocas

Clara disse...

Nem nós a entendemos, na verdade, como explicá-la...

Mas estiveste muito bem. Lamento a vossa perda...

Smas disse...

E aprendeste muito bem, pena que dessa maneira tão dura.
Bjs grandes

Anónimo disse...

Que difícil que deve ter sido...força para vocês as duas, muita força mesmo.Beijo enorme