Não és a super prima, nem a super menina nem nada, por isso hoje a primeira cena de ciúmes. Das que julguei não teres. Mas, orgulhosa, sem dizeres nada, sem falares mal, sem birra. Apenas um ressentimento que se via e se sentia. Um olhar mais vazio, mais triste, mais inseguro. Longe de ti. Eu, que te acho sempre tão superior a tudo e a todos, sem hesitações. Eu que me esqueço que és menina, que tens os teus medos, as tuas angústias, as tuas fragilidades.
Num destes dias na Blogosfera, li algo que não esqueci, não me recordo onde. Um texto tão verdadeiro (que me perdoe a fonte), que me deixou a pensar tanto tempo. Porque, como dizia (por isso as minhas frases não serão originais), gosto de ti por tudo.
Gosto do teu ar, do teu olhar, da tua voz quente. Gosto do teu choro, da tua cara vermelha de raiva, das tuas birras que não compreendo. Do teu cheiro de bebé, ao acabar o banho, do cheiro do teu cabelo suado, do teu queixo arredondado, das tuas feições. Gosto da tua teimosia inexplicável, da tua vontade de permanecer sempre acordada, do teu vício de ver filmes, da alegria com que andas de bicicleta. Gosto dos teus pés gordos, das tuas "safufas" (leia-se bochechas do rabiosque), cheias de banha e celulite. Gosto da tua inteligência, da tua perspicácia, da tua inocência. Gosto da perfeição dos teus defeitos, das tuas zangas comigo, de te dizer não ou sim ou coisa nenhuma. Gosto de te ver dormir, dos teus suspiros, da tua gulodice, dos arranhões dos joelhos. Gosto da tua forma atrapalhada de andar, do correr trôpego, das palavras que inventas, das frases que constróis. Gosto da tua mancha da testa, que tens desde que nasceste, de te ralhar, de te sorrir, de te cantar. Gosto de ti por inteiro, completamente, com tudo de bom ou de mau que me trazes. Porque sim, porque sou mãe. Porque sou a tua mãe, ou porque és simplesmente minha filha.
A prima não veio dividir o meu amor por ti.
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