sexta-feira, agosto 13, 2004

Cresceste tanto, filhota, que as roupas já não te servem. Cresceste desde ontem, quando saí de casa, e dormias profundamente, numa calma que só a ti reconheço. Cresceste desde que te afaguei os cabelos e te beijei a face, enquanto sorrias. Quando olho para ti, sei e tenho a certeza de que a felicidade existe. Porque desde que nasceste, que sou mais feliz. Não só porque vieste preencher um vazio deixado pela ausência do teu avô, talvez por teres cara de anjo, como ele. Sabes que são parecidos, filha? Tens o mesmo nariz pequeno, e arrebitado, fazes as mesmas expressões, e o queixo é inconfundível. Por isso tenho a certeza de que foi Deus que te trouxe, para nos compensar a todos, pela tristeza profunda que tínhamos atravessado.

Mas filhota, desde que te vi pela primeira vez, tive a certeza de que estávamos unidas para sempre. Apesar de te terem cortado o cordão ao fim de 36 semanas dentro de mim. Apesar de, algumas vezes, ter que te deixar, e não ficar ao pé de ti, como gostava e como merecias. Habituei-me á tua presença, ao teu cheiro. E a primeira coisa que faço quando te vejo, é cheirar-te. Para ter a certeza que estás ali, ao pé de mim, e que és a Helena. A minha Helena. Sabes que, apesar de nunca querer saber, sempre soube que eras tu? Sonhava contigo, com a tua presença, sentia o bater dos teus pezinhos. E quando te viram nascer, quando me disseram que eras uma menina, a minha menina, tive a certeza de que a natureza não se engana, e eu também não me tinha enganado.

Querida, há dias dei por mim a recordar os ainda poucos momentos da tua vida. Porque tenho medo, ou receio, que as memórias se percam. Tenho medo de me esquecer de alguma das tuas fases. Lembro-me de te achar tão pequena, e ver-te tão linda, quando nasceste. Sei que te amamentei por pouco tempo, mas que te dei tudo de mim, nos teus primeiros meses, apesar de às vezes me sentir meio perdida. Lembro-me quando te levei para o Infantário, e o que me custou deixar-te ao fim de 7 meses de uma presença constante. Lembro-me das tuas primeiras palavras, ou dos dentes que teimavam em não nascer, e das vezes a fio que me chamaste papá, quando te ía buscar à escola. Sou a mamã, filha. A mamã que se aborrece contigo, quando fazes asneiras, e que te compensa quando és menina bonita. A mamã que se ri dos teus disparates, da altivez com que dizes o teu nome todo, e da segurança com que, do alto dos teus dois anos, contas os dedinhos, até dez, sem te enganares. Sou a mamã, que chora quando tem que ir trabalhar até tarde, quando tu lhe pedes para ficar, que se emociona com as tuas descobertas e vitórias do mundo, e sobretudo que faz questão, muita questão, de te ensinar a ser feliz. Mas tu, na tua pequenez, é que me tens ensinado quase tudo!

2 comentários:

Zu disse...

Aqui respira-se uma ternura tão bonita! Um beijo para a mãe e para a filha.

Anónimo disse...

Ai, amiga... Pronto, agora é que fiquei derretida. Escreves tão bem... Beijos, beijos, beijos! Filipa