sexta-feira, outubro 07, 2005

Hoje estou assim, como nos últimos tempos... nostálgica. Ou meia perdida. Nunca imaginei a minha vida assim aos quase 25 anos. Não me imaginava mãe, nem tia, nem sem o meu pai, nem sem estar a trabalhar... É impressionante como somos "pequenos", cheios de sonhos, de projectos, ou cheios de nada, e nos deparamos com tudo o que nos acontece, sem estarmos preparados. Surpresas da vida... umas melhores, outras nem tanto!
Faço um esforço mental, todos os dias, para não perder nada de ti. Sem parecer um cliché, sei que és uma criança especial. Nasceste poucos meses depois do teu avô ir para o céu. Digo-o tantas vezes... sempre soube que eras uma menina. Tinha a certeza. O teu nome, deve-se a uma colega espanhola do pai (Elena), ou talvez uma menina que conheci na infância. Na Nazaré, em casa de uns amigos dos avós. Uma menina que foi comigo ao circo. Uma Helena que, não sei porquê, nunca esqueci. Nem me lembro de a ter voltado a ver...
Eras pequena e linda. Achei-te tão linda. Nasceste naquele dia frio. Estava triste e feliz. Preocupada e feliz. Não preparada e feliz. A tia Patrícia asistiu a tudo, como sempre, apoiou-nos em tudo. Viu-te primeiro que eu. Primeiro que todos. E a partir daí iniciou-se uma nova fase.
Tive que aprender a viver contigo, e a deixar de lado a minha vida independente, desregrada. Nunca tive medos ou angústias em relação a ti. Penso que o meu instinto, que não tinha, nasceu naquele dia, contigo. Só me preocupava a tua fragilidade. Não te amamentei. Tenho pena. Não pude. O leite (que vulgarmente caía, como que de uma torneira aberta se tratasse), secou de um dia para o outro. Apesar de ter pena, nunca fiquei triste por isso. importante era que crescesses e te alimentasses bem.
Cresceste sempre tanto. Lembro-me de te festejarmos vulgarmente. Eras a primeira da família mais chegada. Fazias as delícias de todos. Tivemos a sorte de seres tão bonita, saudável, simpática, meiga, sociável. Tudo o que sonhava para uma filha.
Eras gordinha. Eras malandra. Com uma energia que não acabava nunca. Falaste desde muito cedo. Sempre pronunciaste muito bem as palavras, sempre te exprimiste de uma maneira muito peculiar. Sempre nos surpreendeste com palavras ou frases invulgares, que nos davam vontade de rir... E esta foi realmente a tua "habilidade". Há crianças que andam cedo, que têm dentes cedo, que crescem muito. Tu falavas. Pelos cotovelos... como ainda fazes!
Hoje és uma menina. Nunca te soube proteger como queria. Sou deslembrada, distraída, muitas vezes não tenho paciência para o que devia fazer contigo. Ando cansada, os nossos dias são curtos, o tempo que passamos juntas é pouco. E não corresponde ao que esperas de mim.
Tenho mesmo a certeza que és uma criança diferente. Não para melhor, ou para pior. Apenas diferente. Irradias luz e simpatia por onde passas. Todos falam contigo na rua. Respondes a todos com a mesma alegria. És caprichosa, tens uma personalidade vincada, tens o teu orgulho. Tens um sorriso que contagia e uma beleza que vem de dentro. Irradiada pelo brilho dos teus olhos.
Hoje, por ti, sei que a maternidade não é maravilhosa, como tantas vezes me dizem. É uma aprendizagem diária. Ou muitas vezes um sentimento de culpa. Uma dor na tua ausência. Um sorriso ao relembrar-te. É chegar a casa e ter-te, completamente. É admirar-te ou ralhar logo a seguir, pelo que fazes. É amar-te, mesmo no escuro. Amar-te com uma segurança que dói. Amar-te ontem, hoje ou sempre. Sem te pedir nada...

2 comentários:

Ana Luísa disse...

Só vou deixar um beijinho e dizer que adorei o texto :)

Anónimo disse...

E isso é tudo!
É ser mãe!
E tudo vale a pena por eles.
Beijinhos